domingo, 16 de setembro de 2012

QUE SE LIXE A TROIKA


Hoje não me apetece escrever crónicas, mas compromissos são compromissos. Iniciei um blog e comprometi-me em mantê-lo pelo menos uma vez por semana. Mas hoje, em que foram todos para a rua protestar?... Eu não fui, mas também não me apetece escrever a crónica.
Eu até ia à manifestação. Não gosto do Relvas, o Coelho é um sonso e o Gaspar tem ar de quem gostaria de estar em qualquer outro sítio que não ali, à torreira do deserto orçamental… Se a manifestação fosse contra o despesismo absurdo das obras do marquês, que ninguém pediu, ninguém sentiu falta, ninguém entendeu, eu ia, porque conheço uma rua ou duas em Lisboa a precisarem de obras, uma escada ou duas, daquelas que sobem as colinas, a necessitarem de novos degraus. Mas não. A manifestação foi contra a austeridade. E lá estavam os políticos que não se manifestaram quando se gastava mais do que se tinha e insultavam quem dizia que estávamos de tanga, lá estavam, a dizerem ao povo que atire com o governo pela janela, e com ele a austeridade.
Também lá estava quem não gosta de partidos a dizer que se acabe com eles, e a assaltar as escadas do parlamento com petardos. Ainda me lembro de viver num país sem partidos, mas nesse tempo chamava-se a isso ditadura e não se gastava mais do que se tinha, havia austeridade e grande, mas enfim, os manifestantes lá saberão o que querem. Depois vi também que o slogan do dia era, que se lixe a troika, queremos as nossas vidas, e os tais líderes a apoiarem, a dizerem que sim, que se lixe a troika que teremos de volta as nossas vidas. Só não os ouvi dizer como. E por isso não fui à manifestação, e resolvi dar uma volta pelas leituras deste Domingo: podia me dar para pior.
Parece que este domingo se lê a carta de Tiago que talvez seja, ou não, aquele Tiago mata mouros, filho do trovão, que era capaz de partir tudo à sua frente para proteger o seu mestre, talvez que este Tiago da carta gostasse de manifestações, não sei. E o que diz ele?
Diz por exemplo isto: Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhe disser: “Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos”, sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: “Tu tens a fé e eu tenho as obras, mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé.”
Assim me pareceram os líderes políticos nesta manifestação. Dizem ao povo que mandando lixar a troika teremos as nossas vidas, mas não nos dizem onde iremos arranjar com que alimentar e aquecer o corpo. Têm fé, mas não têm obras!
Pois então, não. Não fui à manifestação.

2 comentários:

  1. No tempo do P. Francisco e da Isabel as coisas eram muito mais simples.

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  2. Não eram. Houve grande austeridade. Como digo nisso que leste, foram proibidas as importações de artigos de luxo.

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