O homem é um animal racional que perde sempre a
cabeça quando é chamado a agir pelos ditames da razão.
Oscar Wilde
A melhor forma de destruir toda a
argumentação do adversário é inventar um insulto, generalizá-lo e mostrá-lo de
forma tão odiosa que seja aceite pela maioria. Depois é só atribuir esse
insulto a qualquer um que apresente uma argumentação contrária. Como ninguém
quer que tal insulto lhe seja atribuído, ficam reféns do mesmo, inibindo-se de
expressar o seu pensamento e opinião, ao ponto de dizer o contrário do que
verdadeiramente pensam. É de tal ordem o sucesso que mesmo aqueles a quem o
insulto podia ser atribuído o usam consciente ou inconscientemente. Foi assim
com o apodo de comunista no anterior regime, e o de fascista no actual. Porque
o assunto está na agenda, o insulto da moda é: homofóbico; de tal modo eficaz
que o próprio Gore Vidal, um homossexual assumido e famoso, seria facilmente
apelidado com tão feio insulto, quando disse que o assunto do casamento gay lhe
dava sono.
Por alturas do 13 de Maio, Cavaco
Silva, um católico assumido, falou em inspiração de Nossa Senhora de Fátima, na
melhor tradição dos chefes de estado portugueses, desde o fundador de Portugal
que lhe atribuiu o nome de “Terra de Santa Maria”, quando em Lamego fundou o
reino, passando por D. João IV que nomeou Nossa Senhora padroeira de Portugal e
a coroou rainha deste pobre país. Caiu o Carmo e a Trindade e os próprios
católicos fizeram coro contra Cavaco, mesmo aqueles que vão a pé a Fátima pedir
qualquer graça, que não a graça que falta ao Presidente. O homem não tem piada,
já todos percebemos, e também perdeu autoridade, mas tem todo o direito de
expressar a sua crença sem que pareça diminuído intelectualmente, quanto mais
não seja por respeito à tradição de um povo e do fundador do Estado.
As virgens ofendidas, na
impossibilidade de exilarem a Senhora que se apresenta como rainha de Portugal,
em clara violação da Constituição, agarraram-se à laicidade do estado
argumentando que o Presidente tem de calar a sua fé. Subjacente está a teoria
que vai minando toda a sociedade: a de que ter fé numa crença religiosa só pode
ser fruto de alguma anomalia psíquica, ignorância ou falta de espírito
racional. Da teoria ao insulto já quase não falta nada, e já poucos se atrevem
a afirmá-lo em público, porque as “taras” querem-se privadas.
O Presidente tem de ter uma atitude
racional, gritam, como se Platão, Agostinho, Tomás de Aquino ou Espinosa não
tivessem sido racionais. Como se Dali tivesse as suas capacidades intelectuais
diminuídas quando pintou o Cristo de São João da Cruz e afirmasse que o mesmo
correspondia às suas próprias visões. O risco de ser-se considerado
intelectualmente diminuído faz com que cada vez mais crentes se abstenham de
falar da sua fé e da crença na manifestação do Divino. Quando se vai a Fátima é
porque se acredita na intervenção da Senhora que dizem lá ter aparecido:
afirmá-lo não pode ser surpresa para ninguém e muito menos considerado pouco
racional. E isto vale para o dono da mercearia como para o Presidente da
República, sob risco de a Constituição ter de proibir o Presidente de comungar
e participar na missa em público.
Manifestar a crença na intervenção de
entidades sobrenaturais é assim interdito a quem ocupa cargos públicos, num
país onde a Constituição possui como dogma irrevogável, a forma de governo
republicano e a independência e unidade nacionais, como se fosse heresia
dizer o contrário do que um grupo de homens decidiu escrever em forma de Lei. A
Constituição passa assim a ter valor de dogma religioso, num país que se quer
laico. A crença que a nação se esgota num estado independente é historicamente
errada e a Constituição se quer defender a Nação tem de acarinhar os seus
elementos fundadores e formadores, que passam necessariamente pelo epíteto de
Terra de Santa Maria, padroeira e rainha de Portugal, sob risco de ficar sem o
que se denomina de Nação.
O Presidente Obama, o ícone da esquerda
europeia, seguindo a tradição deixada por Washington, jurou fidelidade à Nação
com a mão sobre a Bíblia, dizendo: So
help me God. Ora nada disto é obrigatório e já houve presidentes que
recusaram a Bíblia e a frase não está no texto legal. Portanto, das duas uma:
ou Obama acredita na intervenção divina para o ajudar na condução do estado
americano, ou mentiu, o que não seria muito recomendável para início de um
mandato. Porque raio não pode Cavaco dizer que houve mãozinha da Senhora de
Fátima? Se foi para ser engraçado, não teve graça nenhuma. Se foi a sério,
estava no seu direito e não devia ser motivo nem de chacota nem de coros de
tragédia grega, e muito menos de atestados de menoridade intelectual.
Na Holanda acabam de fazer rei a um
homem, numa cerimónia religiosa dentro de um templo cristão. Os japoneses
acreditam que o seu imperador, líder máximo da religião xintoísta, é
descendente de Amaterasu, a deusa do Sol e do Universo. Quando foi entronizado
passou a noite sozinho num templo, na esperança de uma cópula divina, deixando
a Nação feliz e contente, porque o seu imperador se amancebava com deusas. Os
Islandeses, quando constroem estradas, utilizam o serviço de pessoas que têm a
capacidade de negociar com duendes de forma a encontrarem a melhor solução para
o traçado de um caminho que não belisque a morada destas entidades simpáticas
mas buliçosas, acreditando ser possível um consenso entre duendes e
engenheiros. Ser racional é saber que são as emoções que nos comandam. Foi pela
emoção de voar que aprendemos a construir aviões, imitando os pássaros.
Nestes tempos de crise, é pela emoção
de acreditarmos que somos Nação protegida pelos milagres de Nossa Senhora que
obedecemos à constituição: pela razão já teríamos mandado a independência
nacional às malvas e chamado de novo o conde de Lippe, não só para organizar o exército,
mas também as finanças e pôr um fim às rendas da energia, já que os políticos
da terra não o conseguem nem podem pedir ajuda divina como Afonso fazia
erguendo as mãos aos céus, quando largava delas a espada para lhe arrefecer a lâmina, não fosse destemperar-se o aço.
A Islândia, a Holanda, o Japão e os EUA
têm um índice de literacia de 99 %. Em Portugal este índice é de 95.2%. Que a
rainha de Portugal nos ilumine e ajude a chegar aos 4.8% que faltam, porque
depois talvez consigamos fazer o resto.
Estou toda contigo João é como não acreditar em nada e depois pedirem-nos para rezar por eles
ResponderEliminarO problema não está em não acreditarem. Está em que já olham de lado a quem é crente como se fosse tontinho. O insulto não tardará.
EliminarExodo 20, 1-17.
EliminarSeja como for, um pecador ou um idólatra não tem de ser considerado um idiota. É exigente o texto que cita: uns roubam, outros mentem, outros cometem adultério e outros rezam à imagem da virgem. A lista é extensa: há pecados para todos os gostos.
ResponderEliminarQuanto aos idiotas o Criador distribuiu-os generosamente entre os que crêem e os que não crêem.