sábado, 23 de agosto de 2014

O SILÊNCIO DO ISLÃO


           Quando Bento XVI, na sua aula em Ratisbona, citou o imperador Bizantino Manuel II, Paleólogo, esqueceu-se que na Pérsia já não havia homens eruditos como o que discutia com Manuel II.
            Que os muçulmanos tivessem ficado melindrados com a aula de Bento XVI compreende-se, embora deixassem a descoberto a fragilidade actual do pensamento das elites intelectuais islâmicas que, no meio do ruído gerado, perderam uma oportunidade para se fazerem ouvir. Quando estudantes e professores da Universidade La Sapienza recusaram ouvir Bento XVI demonstraram à saciedade que quer o Ocidente quer o Oriente não estavam preparados para o brilho e grandeza do pensamento de Ratzinger. A luz do discurso do Papa punha a nu a pequenez das elites intelectuais do mundo actual, e isso era-lhes insuportável.
            Nunca como hoje o Islão precisou tanto do pensamento brilhante dos seus intelectuais medievais. Se é porque os jornais calam o pensamento actual dos intelectuais islâmicos ou porque esse pensamento não existe, não sei, mas o silêncio do Islão perante os crimes que em seu nome se fazem é ensurdecedor.
            Face a esse silêncio resta trazer à memória as palavras de ouro de um do maiores pensadores ibéricos, um muçulmano do século XII, Ibn al Arabi, nascido em Múrcia, na actual Espanha e que um dia visitou Lisboa para se encontrar com Afonso Henriques, outro iniciado.
            Ibn al Arabi foi um dos maiores, senão o maior, mestres Sufi da península ibérica e encontramos ecos dele na poesia de São João da Cruz e no misticismo de Santa Teresa de Ávila. Ouçamos então o mestre:

“O meu coração abriu-se a todas as formas: é pastagem de gazelas, claustro do monge, templo de ídolos, a Caaba do peregrino, as tábuas da Tora e o sagrado livro do Corão. O Amor é a minha religião; qualquer que seja a direcção da caravana, a religião do Amor será sempre o meu credo e a minha fé.”

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