sábado, 4 de março de 2017

GASTRONOMIA BÍBLICA 2 - QUEIJO ABEL


 “Génesis 4, 2: «Depois, deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor, e Caim, lavrador.”
Caim matou Abel por inveja. Como é que Abel era pastor e Caim lavrador, quando o estágio humano se limitava ainda à recolecção, é um mistério. Mas o importante da história é que Adão pastoreava o seu gado não estabelecendo fronteiras, percorrendo o território e preservando a sua bio diversidade, enquanto Caim estabelecia a posse da Terra, controlando-a. É conhecida a velha querela entre pastores e agricultores, porque os rebanhos não conhecem limites e invadem as searas. O resultado é sabido: Caim matou Abel, irmão contra irmão. Mas deixemos o malvado Caim amargurar-se no fel do ódio alimentado pela posse dos frutos da Terra, e vejamos o que comia o livre Abel.
Abel tinha rebanhos, é certo, mas como estávamos ainda no período pré Noé, não havia autorização para o consumo da carne. Então por que raio Abel tinha rebanhos, perguntam-me vocês. E eu por acaso conheço os segredos insondáveis do Bom Deus? Abel tinha rebanhos porque gostava do pelo macio das ovelhas, pronto! Se não comia a sua carne, talvez bebesse o leite enquanto a mãe Eva lhe tricotava uma túnica de lã para as noites frias da serra. Para transportar o leite ao longo de veredas e penhas, usava o estômago dos animais mortos. O leite em contacto com o ácido sabemos todos que coalha, e temos o queijo. Terá acontecido o mesmo a Abel. Muito surpreendido, verificou que o leite armazenado no estômago tirado a uma cabra velha, coalhou com os ácidos estomacais. Abel gostou e chamou-lhe, queijo na língua que ele falava. Os pastores da Serra da Estrela, mais finos que Abel, em vez do fel do estômago, usam a flor do cardo, e também lhe chamam queijo… ao leite coalhado, mas em português.
Estava Abel olhando as estrelas, pensando como seria bom ter uma namorada com quem compartilhar a ceia, coisa difícil naqueles primeiros tempos, quando decidiu preparar um petisco. Desta vez usou o forno que o pai Adão já tinha, finalmente, construído. Tomando um queijo mal cheiroso de cabra, cortou-o às rodelas colocando-as sobre uma laje de pedra. A seguir desceu a encosta até junto a um ribeiro que corria alegre colina abaixo, e colheu as nozes que frutificavam na árvore que assentava o pé no chão calcário regado pela água do ribeiro. Descascou-as e partiu o miolo aos bocados, espalhando-o sobre as fatias de queijo. Adão, que desde que provara os figos melados de Eva dedicara-se a guardar colmeias para lhe extrair a doçura, forneceu ao filho um corno de carneiro cheio do doce néctar. Abel regou generosamente as fatias de queijo e nozes com o mel que seu pai lhe deu, e depois usou o forno para assar as fatias de queijo, nozes e mel. Ficaram uma delícia! Ainda pensou oferecer ao irmão Caim, mas este estava demasiado preocupado a afugentar os corvos que lhe comiam as sementes.

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