sábado, 23 de março de 2013

MONÓLOGOS DE GIOCONDA - PARTE II

 
 

Parte II
-       Só voltei porque Francesco faz muita questão no retrato, mas não comece com coisas, senão zango-me.
-       O vestido? Outra vez? O que foi agora?... Uma nódoa!? Onde? Ah. Ora vejam. Não a vai pintar, pois não?... Há nódoas em vestidos que ficarão famosas?... Talvez, mas não esta. Deve ter sido ontem, no jantar. Entornei a ribollita… O que quer?... Sopa de pobre, claro. Já não estamos no tempo dos Médici…. É a crise...
-        Fomos convidados… ainda aparentados com os Médici, apesar de servirem ribollita… pelo menos é o que dizem. O Francesco diz que nos pagam em jantares o que nos devem nas sedas… Porque fomos? Ora, o Francesco deve-lhes favores e esquece a dívida.
-       O que diz?... Se o Francesco não lhe pagar leva o quadro?... Emigro! Já vi que continua zangado… vai oferecer o quadro ao seu amiguinho Sforza. Não tem pena de mim? De me expor assim naquele castelo monstruoso em Milão?... Como sei se nunca lá fui? Falámos nisso, ontem ao jantar. Que é enorme, feio e sem graça. Que não passa de uma enorme fortaleza.
-       Vai oferecê-lo ao rei de França? Exposta em Paris… Em Fontainebleau? Menos mal… ou no Louvre? À viva força me quer presa em fortalezas!
-       Hão-de vir de onde a ver-me?... Do Japão? Onde fica isso?... No meio do mar?... Depois da China! Nunca ouvi falar e o Leonardo delira. Como é que hão-de vir daí a ver-me se nunca de cá os vimos?... Foi uma visão que teve!? Bem me avisaram para tomar cuidado. Dizem que o Leonardo é realmente um visionário e só tem tonterias na cabeça.
-       O favor que o Francesco deve? Olhe, precisamente por causa da China. Apareceu aí um que quis abrir uma loja. Aqui, em Florença, imagine. Vendia sedas mais baratas, dizia ele. O Francesco zangou-se e conseguiu que corressem com ele… Que diz?... Não será por muito tempo? Veremos…
-       Por falar em terras distantes, ouvi falar que descobriram o Brasil… Onde? Para lá do oceano… América? Não, mais para Sul… não, o Francesco não tem sorte nenhuma. Não é nenhuma oportunidade de negócios. Dizem que andam nus, ninguém lhe comprará a seda… Disse nus, sim. Sem roupa.
-       Também gostava?... O QUÊ? Pintar-me nua?! LEONARDO…
(continua...)


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