quarta-feira, 5 de junho de 2013

CLUBE COM NOME DE CERVEJA

Existe um clube onde as reuniões não são mais do que a forma que o diabo tem para organizar a lista para apresentar nas audiências com o Criador, quando da distribuição das almas, onde Deus sai sempre perdedor. É que poucos resistem ao glamour dos salões do mafarrico e quando o convite chega não há santo que resista.
O sócio português do clube é dono de jornais. Não de fábricas que produzam valor acrescentado para o país, não: de jornais e revistas que enchem as salas de espera de cabeleireiros e dentistas. Isto de ser dono de jornais e milionário num país onde ninguém lê tem que se lhe diga, desde que um pobre tipógrafo com quarto arrendado fundou o Diário de Notícias permitindo, mais tarde, que a filha e o genro assentassem arraiais em palácio seiscentista à Graça. Ter sido, a filha, protagonista de um dos maiores escândalos de alcova na 1ª república, que mais não deu que um livro esquecido nas prateleiras das livrarias, diz muito sobre a alfabetização do país e a riqueza que se cria com a ignorância das letras.
Aos membros do clube que manda no mundo (se excluirmos a China que foi e é quem sempre mandou, como os espanhóis descobriram no século XVII), é costume apresentarem os futuros primeiros-ministros de Portugal. Mas Passos Coelho não foi à reunião do clube, oiço dizer. É verdade, mas também se diz que Passos Coelho não passa de uma figura decorativa: o rapaz é jeitoso, tem charme e dizem que é inteligente e eu acredito; porque quem manda é um tal que veio da América escolhido pelo clube, com nome parecido aos Bórgias, mas que nem Lucrécia nem César quereriam para escabelo dos pés.
Só isto seria já razão de sobra para ir para a rua gritar, mas não como faz alguma gente mal-educada que impede os outros de falar (não vá dizerem algo de útil), fazendo muito ruído na esperança que confundam a arruaça com assaltos ao palácio de inverno. Ir para a rua gritar para que me ouvissem e deixar que se ouvissem. Se acrescentarmos um presidente que convoca o conselho de estado para discutir a situação que virá depois da troika, fingindo fazer alguma coisa para que se esqueça a actual, verão que me sobram razões para gritar de peito aberto ao vento.
A gritar ou não gritar, como diz o outro, não é que oiço dizer que a esperança de Portugal foi também convidada a ir ao beija-mão dos sócios do clube, levando por companhia o braço direito do actual primeiro, que foi o que se pôde arranjar, porque a esquerda não sabe comer de garfo e faca (o caviar come-se à colher), e o homem não é esquisito? Dizem que o jovem promissor, sem forças para recusar mas seguro de si, fez peito cheio e disse: que sim, que ia, para lhes dizer umas verdades, cara a cara, como quem não teme os grandes do mundo!
E se assim é, desculpe-me o leitor, mas agora é que tem de ser: vou ali à rua GRITAR.
 - Ó Paulinho, vais ver o que lhes vou dizer, que a mim não me comem!
- Olha Tózé, diz lá o que tens a dizer, mas pelo amor de Deus não faças essa boquinha, que pode parecer mal. É gente muito sensível…
- E ó Paulinho, o vinco? Achas que o vinco das calças está no sítio? Não quero fazer má figura, assim, logo de início. Tu entendes…
- O vinco tá bem, Tózé. Mas esse pullover…?! Onde é que compras isso? Na feira das Caldas?
- Ó Paulinho, é que me constipo, e depois fanhoso custa-me a fazer voz grossa!

 
  


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